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Saúde mental e o desenvolvimento infantil
Juliana Blaser
12 de outubro de 2019
Saúde mental e o desenvolvimento infantil:
Faça o dia da sua criança mais feliz!
Por Juliana Blaser – Diretora e Psicóloga do Espaço Clínico Cogitus
Não é novidade para ninguém que muito do que nos tornaremos na idade adulta foi semeado durante o período da infância. Portanto, é muito importante cuidarmos bem dos nossos pequenos de forma a proporcionar-lhes uma infância saudável. Aqui vão alguns pontos importantes a serem observados:
Na primeira infância (até os 3 anos) a relação da criança com seus cuidadores tem papel primordial. É através desta relação que ela desenvolve duas características fundamentais: a confiança e a autonomia e é também nesta fase que elas começam a apresentar os primeiros sinais de emoção.
A criança já bem pequena começa a experimentar emoções de raiva, tristeza, alegria e frustração. A freqüência e intensidade que essas emoções são experimentadas se baseiam em características da própria criança e também na forma como o cuidador responde a ela. A responsividade do cuidador aqui é a palavra chave para um desenvolvimento saudável de um bebê. Se a criança chora de dor, de fome ou porque está sentindo algum incômodo e os pais respondem à sua necessidade a criança vai adquirindo confiança no cuidador. Alguns pais preocupam-se com o fato de estar mimando a criança ao pegar constantemente o bebê chorão no colo. A maioria das evidências, porém, sugere que isso não é verdade, especialmente quando são altos os níveis de aflição. Além disso, se os pais respondem ao sorriso da criança, a seus barulhos e brincadeiras eles estão semeando as bases de interações sociais saudáveis.
Quando a criança fica um pouco maior e já consegue caminhar e falar, promover a autonomia é fundamental. Permitir que a criança explore o ambiente, brinque, tome pequenas decisões adequadas à sua idade (como o brinquedo com o qual deseja brincar) são formas de desenvolver esta capacidade. Você também pode dar-lhe tarefas adequadas à sua idade como guardar os brinquedos, arrumar a cama, dentre outras. A execução bem sucedida dessas tarefas, vai criando na criança um senso de auto-eficácia e de que ela é importante no ambiente doméstico.
Um ponto bastante interessante sobre as crianças pequenas é que o seu cuidador se torna também seu modelo sobre como reagir às situações ambientais. Então, por exemplo, se seus pais demonstram uma expressão de medo frente a um cachorro ou quando a criança está subindo em uma árvore, a tendência é que a criança interprete estes objetos como ameaçadores, portanto, os pais devem estar atentos ao modo como reagem às situações para não inibir o comportamento de suas crianças.
Além disso, em crianças pequenas, a imitação tem um papel chave. Elas imitam a forma de andar do adulto, suas expressões e sua forma de reagir. Portanto, se você não quer, por exemplo, um filho raivoso e respondão, é melhor modificar também o seu comportamento, pois ele tenderá a fazer aquilo que você está ensinando através do exemplo para ele.
Na segunda infância a criança começa a desenvolver o autoconceito e a autoestima. Se você quer que seu filho se desenvolva saudável, lembre-se de elogiar suas capacidades e realizações, mesmo as pequeninas. Além disso, quando precisar criticar não critique a criança, mas a atitute que você não gostou. Se a sua criança não arrumou a sua cama (e deveria tê-lo feito) ao invés de dizer por exemplo “você é um imprestável, não faz nada que eu peço” você pode dizer “hoje você não arrumou a sua cama, e tínhamos combinado que você faria isso. Quero que você faça isso agora”. Para estabelecer este tipo de comunicação você pode usar alguns princípios básicos:
- Descreva o comportamento que você não gostou (não arrumar a cama);
- Seja específico (a criança apenas não arrumou a cama, o que é muito diferente de “não fazer nada que eu peço”);
- Seja propositivo, descreva o comportamento desejado e ajude a criança a encontrar formas de executá-lo (quero que arrume a cama agora);
- Seja descritivo, mas não julgue. Frases como “você é um imprestável” são julgamentos sobre o comportamento e geralmente não ajudam em nada, só minam a relação pais e filhos e diminuem a autoestima da criança;
- Tente também moderar as críticas, fale o que é necessário, mas não precisa criticar tudo. Quanto maior o número de críticas, mais difícil fica da criança fazer tudo o que os pais pedem e ela pode acabar desistindo ou concluindo que os pais não gostam dela.
A atenção dos pais também é fundamental em qualquer idade. Sabemos que é difícil nos dias corridos de hoje encontrar este tempo, mas para tornar a tarefa mais exeqüível uma sugestão é criar objetivos semanais de interação. Pode ser um tempo pequeno, como 30 minutos, mas que este seja um tempo sagrado. As atividades desse tempo podem ser ver um desenho juntos, jogar um jogo, ler um livro, cozinhar, passear. Não precisam ser atividades que envolvam gastos financeiros, o importante aqui é dedicar um pouquinho de seu tempo à criança.
Diga não. As crianças também precisam de seu não. Você é a referência dela do que se pode ou não fazer e guiar a criança é também um ato de amor. Deixe sua criança brincar (não estamos falando de brincar 24h ok?). O brincar é a principal atividade da segunda infância. Ele permite que as crianças se envolvam com o mundo a sua volta, usem a imaginação, descubram formas flexíveis de solucionar problemas, treinem para situações adultas, estimulem os sentidos, exercitem os músculos, coordenem a visão com o movimento, obtenham o domínio sobre o seu corpo, adquiram novas habilidades, aprendam a cooperar e aprendem habilidades de resolução de conflitos.
Sabemos que tudo isso é fácil de falar, mas difícil de executar, por isso sugerimos que você comece por metas pequenas. Proponha-se a comunicar-se assertivamente pelo ou menos um dia, separe 30 minutos para o seu filho, elogie-o pelo ou menos uma vez ao dia, deixe-o explorar o ambiente e se possível traga uma novidade para ele (pode ser um novo som, uma nova textura… coisas simples), permita que ele brinque e principalmente, seja um bom exemplo!
Se precisar de uma forcinha a equipe Cogitus também está à sua disposição.
FAÇA UM FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!
Referências: Papalia, D. E., & Feldman, R. D. (2013). Desenvolvimento humano. Artmed Editora.