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O que esperar do tratamento para Transtorno de Personalidade Borderline?
Juliana Blaser
13 de novembro de 2021
Por Juliana Blaser
Muitos pacientes com o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline são assombrados pelo medo de que “transtorno de personalidade não tem cura” e, muitas vezes, pensam até mesmo em desistir da vida, pois é difícil demais conviver com o sofrimento imposto pelo quadro. Por isso, mais do que nunca se faz necessária a pergunta: O que esperar do tratamento para Transtorno de Personalidade Borderline?
Como sei que um tratamento funciona?
Para responder a essa pergunta, preciso primeiro abrir um pequeno parênteses para explicar como é respondida a pergunta: “Um tratamento funciona”?
Na Psicologia, assim como na Medicina, a resposta a essa pergunta é dada por um estudo empírico. A estrutura do estudo é basicamente assim: tiramos medidas iniciais de um ou mais sintomas (por exemplo ideação suicida), realizamos a intervenção e depois medimos novamente os sintomas. Os resultados dos pacientes são comparados com os resultados de um grupo controle que não recebeu tratamento algum. O tratamento é considerado eficaz se os pacientes apresentarem uma redução dos sintomas significativamente maior do que o grupo controle (que simboliza a melhora que ocorreria espontaneamente, sem a pessoa precisar fazer nada).
Por exemplo, se queremos avaliar o impacto de um tratamento na ideação suicida de pacientes Borderline, então fazemos assim: reunimos pessoas Borderline (vou colocar 20, mas poderia ser outro número) com ideação suicida e fazemos a medida da freqüência e intensidade de sua ideação suicida (ex: 30h por semana). 10 dessas pessoas irão receber tratamento e 10 não irão (grupo controle). Depois de findo o tratamento iremos medir novamente o número de horas de ideação suicida experienciada pelas pessoas do grupo controle e o grupo que recebeu tratamento. Consideramos que um tratamento é eficaz se o grupo que recebeu a intervenção tiver reduzido significativamente o número de horas que experiencia ideação suicida comparado com o controle.
Em que eu posso melhorar quando estou falando de Transtorno de personalidade Borderline?
O “número de horas de ideação suicida” é apenas um dos aspectos que se pode avaliar relacionado ao Transtorno de Personalidade Borderline. Os estudos usualmente também consideram: 1. A freqüência do comportamento de auto-auto-lesão; 2. A frequência e a intensidade da raiva experimentada; 3. A instabilidade afetiva; 4. A impulsividade; 5. A ocorrência de problemas interpessoais; 6. A freqüência com que é experimentado o sentimento de abandono; 7. A depressão; 8. A capacidade de concluir os estudos, trabalhar e estabelecer relações sociais (funcionamento psicossocial), dentre outros.
E aí? Qual é o resultado? Depende da modalidade de terapia…
Como vocês já devem ter ouvido falar, existem inúmeras modalidades de psicoterapia: Terapia Cognitivo-comportamental; Mindfulness; Terapia de Aceitação e Compromisso, Psicanálise (que na verdade não é uma modalidade de tratamento psicológico, mas muitas pessoas acham que é) e por aí vai…
Muuuuitos estudos já foram feitos sobre cada uma dessas modalidades de tratamento. O grupo de tratamentos mais eficaz é publicado em uma lista no site da Sociedade Americana de Psiquiatria (APA) na parte de Evidence-Based-Theraphies (inclusive, aqui você acha o nome das terapias mais eficazes para cada tipo de transtorno mental, não somente borderline). Nessa lista, você irá encontrar a DBT ou Terapia Dialético Comportamental, que é a nossa especialidade, então a partir de agora, falaremos da DBT.
Em que a DBT pode ajudar um paciente Borderline?
Como existe muito material publicado na internet sobre todo o tipo de assunto é necessário primeiro filtrar qual material é realmente confiável, e segue o protocolo de estudos sérios, e depois sintetizar os resultados. Uma meta-análise serve para isso.
Uma meta-análise feita em 2020 reuniu o resultado de 24 estudos com mais de 1200 pessoas avaliando a eficácia da DBT para o tratamento do Transtorno de personalidade Borderline e chegou aos seguintes resultados. No final do tratamento os pacientes experimentaram redução na severidade de seus sintomas, especialmente nos comportamentos de auto-lesão, na intensidade e/ou frequência da raiva experimentada quotidianamente, na impulsividade e na freqüência com que experimentavam episódios psicóticos ou dissociativos. Além disso, a DBT auxiliou na melhora no funcionamento social, ocupacional (como habilidade de completar os estudos) e psicológico.
Fonte: Storebø OJ, Stoffers-Winterling JM, Völlm BA, Kongerslev MT, Mattivi JT, Jørgensen MS, Faltinsen E, Todorovac A, Sales CP, Callesen HE, Lieb K, Simonsen E. Psychological therapies for people with borderline personality disorder a Cochrane Meta-analysis and review.