Novembro Azul: Homem que é homem faz terapia!

Por Julio Mazzoni – Diretor e Psicólogo do Espaço Clínico Cogitus

A campanha do Novembro Azul chama atenção não apenas por buscar promover uma conscientização sobre cuidados em saúde na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata, mas em especial, por levantar uma série de questões associadas à saúde do homem. A proposta deste movimento global no mês de novembro cada vez mais direciona-se para uma campanha cujo foco é a saúde integral dos homens, o incentivo a procura pelos serviços de saúde e ao autocuidado. E não existe saúde integral sem saúde mental e qualidade de vida.

Quem nunca ouviu expressões como “Homem que é homem não chora”; “Você precisa ser forte”; “Expressar emoções é sinal de fraqueza”; “Eu que preciso resolver meus próprios problemas sozinho, não devo procurar alguém para me ajudar com isso”; “Psicólogo é só uma conversa, irá me ajudar em quê?”;“Quem tem amigo não precisa de terapia!”; “Eu vou lá ficar falando da minha vida para um estranho(a)?”; e assim por diante? O fato é que existe ainda muito tabu e falta de informação sobre aquilo que nos é mais íntimo: nossos pensamentos, emoções e estados mentais.

Não é novidade para ninguém que quando o assunto é saúde mental somos inundados por uma série de preconceitos, estereótipos e dúvidas. Diversas pesquisas têm estudado o quanto o estigma, os estereótipos negativos e o preconceito são barreiras para a procura de serviços de saúde mental. E, infelizmente, na população masculina tais crenças sociais, o preconceito e a falta de informação contribuem de forma significativa para que os homens vivam um sofrimento psíquico silencioso.

No consultório, em minha prática clínica, observo com frequência muitos homens começarem a psicoterapia sem saber ou terem identificado que já estavam vivenciando por meses sintomas depressivos. Ou sem perceber que aquela ansiedade e estresse vivenciado diariamente já era algo disfuncional em suas vidas e não apenas “uma rotina normal”. O machismo estrutural e a naturalização da falsa crença de que o “homem deve dar conta de tudo” impacta indiretamente a saúde de milhares em todo o planeta.

Portanto, assim como é importante a prevenção e o diagnóstico do câncer de próstata, em saúde mental, o mesmo critério é importante. A prevenção e identificação precoce de sintomas e o diagnóstico é fundamental, uma vez que existem tratamentos farmacológicos e psicoterapêuticos eficazes. Você não precisa lidar sozinho, sem suporte especializado, com emoções como tristeza, medo, ansiedade, raiva (dentre tantas outras) quando tais estados psicológicos começam a afetar sua vida íntima, profissional, suas relações interpessoais e saúde.

Você, homem, não precisa ter receio de cuidar da sua saúde. Você tem direito de sentir-se vulnerável, sem respostas, sobrecarregado, perdido, deprimido e incapaz de lidar com os problemas da vida cotidiana. Sou psicoterapeuta, trabalho com psicoterapia e faço terapia. Por quê?

Porque homem que é homem cuida da sua saúde e não tem vergonha de reconhecer que precisa de suporte especializado para viver melhor e com qualidade de vida.