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Borderline e relacionamento
Juliana Blaser
15 de junho de 2023
Certamente uma das características mais conhecidas do Borderline é a de serem pessoas “intensas” e que “amam demais”, que “se apaixonam facilmente”e que sofrem desmedidamente com o término de relações.
O mais marcante dos relacionamentos Borderline é a centralidade que eles ocupam em suas vidas. O Border pode, por um lado, viver toda a sua vida em função de encontrar um relacionamento afetivo ou, por outro, quando o encontra, foca todos os seus recursos e atenção para a “pessoa amada” como se nada mais existisse. A pessoa se torna “a razão de viver do Borderline” e a única coisa com a qual ela irá realmente se ocupar, desorganizando todo o restante da sua vida. Em casos extremos, há pessoas que relatam que sentem “como se não existissem”, caso não tenha alguém que possa notá-las, amá-las e se lembrar delas.
Avida sem o parceiro pode parecer muito ameaçadora para o Border pois sob a sua perspectiva: 1. A pessoa amada é a única que consegue acalmá-lo, 2. A presença dela o faz “sentir-se vivo” e confere sentido à sua existência, 3. Ela (Border) é incapaz de lidar com o mundo sem a presença de alguém que a guie, 4. O parceiro é a pessoa que o ajuda a ver o seu valor pessoal, pois ela sozinha não consegue ver valor em si mesma, nem validar as suas capacidades e conquistas, 5. O parceiro é seu guia, pois ela não crê em sua capacidade de julgamento e tomada de decisões. Sendo assim, quando confrontado com a possibilidade real de abandono por parte da pessoa amada o Border entra em completo desespero e faz coisas extremas, muitas vezes interpretadas como manipulação, para não perder o parceiro.
O medo do abandono se expressa em pensamentos voltados para a ideia de que as pessoas que estão à sua volta em breve irão deixá-lo. São pensamentos como: “Sei que cedo ou tarde as pessoas vão me deixar”, “As pessoas que eu amo nunca ficam na minha vida”, ” Quando as pessoas dizem que gostam de mim elas não estão falando a verdade”, “Se eu mostrar como eu sou verdadeiramente para as pessoas elas vão me abandonar”, “Não posso realmente me aproximar das pessoas porque em breve elas não estarão mais lá para mim”, “Eu sei que as pessoas que eu gosto vão me abandonar, então ao menor sinal de que elas vão fazer isso, eu devo terminar primeiro”, “Se eu não ficar atenta serei traída”, “Se eu não ficar atenta serei abandonada.”, “Se meu parceiro fica sem responder às minhas mensagens ou se atrasa, penso que ele não gosta mais de mim”. “Se meu parceiro fala algo que eu considero negativo sobre mim, já começo a pensar que ele não gosta mais de mim e vai terminar comigo.”, “Se a pessoa que eu gosto terminar o relacionamento comigo sofrerei de uma maneira insuportável.”, “Se meu parceiro terminar comigo a vida não terá sentido.”
O Border à primeira vista pode parecerciumento e possessivo. Está sempre observando o comportamento de seu parceiro no intuito de perceber seu interesse em outros homens/mulheres e com frequência quer saber o que o parceiro está fazendo e com quem. Além disso, o Border em um relacionamento costuma demandar muuuuita atenção e busca estar em constante contato com a pessoa amada. Isso porque quando se afasta do parceiro, ele tende a experimentar uma intensa ansiedade associada ao medo do abandono.
Também é muito comum que ele seja altamente suscetível, se ressente por coisas que a pessoa deixou de fazer, por momentos que não se sentiu compreendido, por achar que não foi priorizado, por atitudes que avalia como falta de consideração, dentre outros. Em alguns casos, mesmo situações pequenas de desapontamento podem levar o Border a se afastar ou a romper seus relacionamentos. Por trás de todos esses comportamentos está um medo intenso que o Border tem do abandono. Ele fica atento às menores pistas que podem demonstrar que seu parceiro não quer mais manter a relação e por isso o monitora e avalia constantemente.
O Border também é muitosensível a críticas e costuma até mesmo ler avaliações negativas por detrás de comentários inofensivos. É também comum, uma preocupação exagerada e até uma certa “paranóia” com o julgamento negativo por parte de terceiros. Isso se associa ao fato de que no fundo ele mesmo tem uma avaliação extremamente negativa sobre si e acaba por pensar que os outros “pensam tão mal dele quanto ele próprio”. Além disso, normalmente as críticas ativam nele um mecanismo autopunitivo que acaba por maximizar a sua reação a uma crítica que a princípio seria pequena.
Em outra parcela, especialmente nos Border do tipo explosivos, os relacionamentos também são marcados por comportamentos explosivos, crises de raiva e até agressões. Isso ocorre porque o Border sem tratamento tem muita dificuldade de regular as suas emoções e de lidar com a frustração.
Os relacionamentos do Border e com o Border podem em alguns casos se tornar abusivos ou tóxicos (comentários em um próximo post). Por um lado, o Border pode vir a agredir o parceiro ou tenha comportamentos de aparência manipuladora e controladora no relacionamento. Por outro, devido ao medo da rejeição e à dependência emocional que a maioria cria dos parceiros, é bem comum que elas acabem se sujeitando a situações que firam seus direitos e dignidade e que não atendam realmente às suas necessidades pessoais.
A construção de um relacionamento saudável exige um trabalho de ambas as partes. Em nossos próximos textos falaremos um pouco mais sobre o que o Borderline precisa desenvolver para construir relacionamentos saudáveis e algumas dicas para melhorar o seu relacionamento com um Borderline.