Nosso blog
Borderline autoimagem e julgamento
Juliana Blaser
13 de junho de 2023
Embora as características que chamam mais a atenção no Borderline sejam a sua intensidade e sua forma de se relacionar, problemas com a autoimagem têm um papel central na caracterização, desenvolvimento e prognóstico do quadro. A autoimagem Borderline é marcada por cinco características:
- Visão negativa de si mesmo: É muito comum que o Borderline veja a si mesmo como alguém cheio de defeitos, inaceitável, pior do que as outras pessoas e indigno de ser amado. Frequentemente são assombrados pela ideia de que “se alguém me conhecer de verdade, não vai mais me amar” ou “de não ser interessante o suficiente” para que as pessoas queiram estabelecer relações consigo.
- Sentimento de inferioridade: A percepção de ser “menos do que as outras pessoas” pode ser uma marca muito forte na vida da Borderline. Ela se sente menos bela, inteligente, talentosa e capaz do que as outras e pode até mesmo se envergonhar diante da presença dos outros.
- Senso de incapacidade: Uma terceia marca muito comum no Borderline é a percepção de si como alguém completamente incapaz perante a vida e o mundo. Ele não confia em sua capacidade de tomar boas decisões, de fazer um bom julgamento, de resolver problemas, de realizar uma tarefa com qualidade, de cuidar de si mesmo, de lidar com as responsabilidades do dia a dia, de trabalhar, entre outros. Não raro eles consideram que as outras pessoas têm mais habilidade do que eles próprios para guiarem a sua vida e com frequncia percebem-se como alguém que precisará sempre do auxílio do outro para viver.
- Senso de fracasso: Frequentemente o Border vê a sua vida como “um grade fracasso”. Muitas vezes, ele encontra real dificuldade para estabelecer uma rotina, ter disciplina, concentrar-se, cumprir metas e para manter-se em um trabalho. A soma de tais dificuldades lhe dão a sensação de que ele jamais conseguirá atingir um objetivo concreto, ter uma carreira ou ter autonomia em sua vida.
- Julgamento punitivo de si mesmo: Ao perceber todas essas dificuldades o Border costuma reagir de forma muito punitiva consigo mesmo. Seu discurso interno pode ser extremamente autoritátio, humilhante e repleto de xingamentos voltados para si mesmo.
Uma visão tão negativa de si mesmo pode ter consequências devastadoras. No âmbito dos relacionamentos, a visão de si como completamente incapaz perante a vida e como completamente sem valor, coloca o Border em grande risco de desenvolver dependência emocional, comportamentos submissos e de aceitar relacionamentos nos quais seus direitos serão violados, incluindo relacionamentos abusivos. No âmbito profissional, alguém que percebe-se tão incapaz, normalmente não irá se arriscar em nenhum tipo de situação em que a avaliação das suas capacidades seja colocada em voga, podendo chegar a uma completa evitação de atividades laborais. No tocante às relações, não raro essas pessoas experimentam uma grande ansiedade social por perceberem-se como piores, “sem graça” ou “sem nada a oferecer”. O somatório de tudo isso pode levar vivência de intensos sentimentos de culpa, desesperança tristeza.
O trabalho para desenvolver uma autoimagem mais realista, focando também nos talentos, qualidades e forças de caráter é um caminho importante no tratamento do Borderline.