Nosso blog
Benefícios do Mindfulness para a saúde
Juliana Blaser
11 de junho de 2019
Benefícios do Mindfulness para a saúde
Por Gabriela Reis – Psicóloga do Espaço Clínico Cogitus
Talvez você tenha percebido um expressivo aumento da popularidade da meditação e dos comentários sobre seus efeitos positivos sobre a saúde. Isso se deve, principalmente, aos resultados das pesquisas sobre Mindfulness ou Atenção Plena. Mas o que é Mindfulness? É “a consciência que emerge ao direcionarmos a atenção de forma intencional e não julgadora ao momento presente”. Ou seja, é estar consciente momento a momento sobre as experiências internas (pensamentos, emoções, sensações, intenções) e experiências externas. É, portanto, um estado mental ou traço psicológico, mas muitas vezes o termo também é usado para se referir às práticas meditativas e aos programas de treinamento.
Em 1979, Jon Kabat-Zinn, biólogo da Escola Médica da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, já familiarizado com práticas do Budismo Zen e Ioga e se baseando em algumas pesquisas iniciais sobre meditação e psicologia, fundou a Clínica de Redução de Estresse, onde desenvolveu um protocolo de atendimento grupal, em 8 semanas, baseado em práticas laicas (não religiosas ou exotéricas) de meditação para pessoas com dores crônicas. Foi possível perceber com estes primeiros pacientes uma alteração na percepção de dor, diminuição da ansiedade relacionada à dor, assim como aumento da qualidade de vida e bem-estar. O protocolo de Jon Kabat Zinn, (Mindfulness-Based Stress Reduction – MBSR) assim como os protocolos derivados dele (Mindfulness-Based Cognitive Therapy- MBCT, Mindfulness-Based Relapse Prevention -MBRP) foram e continuam sendo extensivamente analisados por pesquisas científicas, fazendo uso, inclusive, de exames de imagens para identificação de alterações cerebrais nos praticantes. Ressonâncias magnéticas funcionais identificaram alterações em regiões cerebrais relacionadas à tolerância à dor, regulação emocional, regulação da atenção e consciência corporal em praticantes de Mindfulness.
A partir da ampla divulgação surgem alguns erros e confusões. O primeiro é entender que Mindfulness e meditação são a mesma coisa. Não são. O termo Mindfulness se refere a um estado mental ou traço psicológico e é este estado e/ou traço que se apresenta relacionado a indicadores de saúde física e psicológica. Ele pode ser alcançado por meio de práticas formais – que são as meditações- e práticas informais – levando consciência para as atividades do cotidiano. Ressalta-se ainda que nem todas as práticas de meditação (fora das Intervenções baseadas em Mindfulness – IBM) têm como objetivo treinar a capacidade de Mindfulness. Outro erro comum é entender que o objetivo da meditação é o não pensar ou “limpar” a mente, quando na verdade o objetivo é “dar um passo atrás” e perceber os próprios pensamentos, emoções, sensações, sem se identificar com eles, criticá-los ou tentar se esquivar deles de alguma forma. E o mesmo vale para a percepção do ambiente externo.
Longe de serem uma panacéia, as intervenções baseadas em Mindfulness não são substitutas de tratamentos convencionais e não são indicadas a todos e em todos os momentos. Elas precisam ser instruídas por profissionais certificados e, preferencialmente, por psicólogos e psiquiatras, caso exista um transtorno psicológico. Quando bem ensinadas e dependendo do número de horas de prática estão relacionadas a melhora da concentração, redução da ruminação, redução da preocupação, aumento da autocompaixão, melhora de habilidades de enfrentamento, aumento da autoeficácia, redução da catastrofização e da sensibilidade à dor.
Atualmente, considerando seu aspecto científico, elas têm sido indicadas para casos de ansiedade generalizada, ansiedade social, hipocondria, fobias, depressão, prevenção de recaídas de depressão, estresse, prevenção de recaída em transtorno bipolar, transtornos por somatização, fibromialgia e dores crônicas, sintomatologia ansiosa e depressiva relacionada a doenças médicas como AIDS, câncer, síndrome do cólon irritável, etc. São indicados também para promoção de qualidade de vida, bem-estar, para melhora da qualidade do sono e da produtividade e performance.
A despeito de tudo isso, o Mindfulness não é uma técnica. É um estilo de vida ou um modo de ser. É sobre mudar a nossa relação conosco. Treinando a atenção com abertura e gentileza para cada momento e cada âncora (respiração, corpo, sons, etc.) nos tornamos capazes de fazer o mesmo com pensamentos e emoções. Passamos a identificar as lentes pelas quais enxergamos o mundo e, assim, podemos com autonomia responder a ele, e não mais apenas reagir. Passamos a perceber que nem tudo está quebrado. Que a aceitação é uma importante fonte de bem-estar e não significa resignação. Nos abrimos para as experiências já que passamos a reconhecer que não há como controlá-las muitas vezes. Trazemos mais consciência para o cotidiano, aqui e agora, com gentileza, compaixão e autocuidado. Então aqui vai um convite: pare por um instante, faça três respirações profundas, e sem provocar ou procurar respostas, apenas se pergunte: o que eu preciso fazer para cuidar de mim agora?
Referências bibliográficas:
Kabat-Zinn, J., & Hanh, T. N. (2009). Full catastrophe living: Using the wisdom of your body and mind to face stress, pain, and illness. Delta.
Martí, A. C., Garcia-Campayo, J., & Demarzo, M. (2014). Mindfulness e ciência. Da tradição à modernidade. Palas Athena
Segal, Z. V., Williams, M., & Teasdale, J. (2018). Mindfulness-based cognitive therapy for depression. Guilford Publications.