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Borderline objetivos e trabalho.
Juliana Blaser
14 de junho de 2023
O Borderline frequentemente encontra dificuldades para desenvolver um trabalho ou atividades acadêmicas estáveis e, portanto, é muito importante compreender os motivos que levam a tais insucessos.
- Dificuldades de regulação: Como apresentamos em um de nossos posts, dificuldades de regulação podem atrapalhar o border a 1. iniciar tarefas que não sejam consideradas prazerosas ou que pareçam desafiadoras, 2. dar continuidade a tarefas que possam ser monótonas, 3. continuar tarefas perante obstáculos e frustrações e 5. trocar recompensas de curto prazo (como ficar no celular) por recompensas de longo prazo (como terminar uma tarefa difícil). Tal inabilidade de regulação é uma das primeiras coisas que pode afetar a vida laboral do Borderline.
- Instabilidade na autoimagem: Além disso, devido a uma certa instabilidade na autoimagem, é comum que o Border tenha dificuldade de estabelecer objetivos e esteja constantemente mudando de ideias sobre “o que quer fazer da vida”.
- Mudanças de humor: As mudanças constantes de humor, são um segundo obstáculo ao sucesso profissional e acadêmico. Em alguns momentos, ele se sente completamente sem energia para realizar qualquer atividade quotidiana, em outros tão ansioso é incapaz de se focar ou de se expor a situações nas quais se sinta testado ou exposto. Em outros ainda, tão irritado que estará a ponto de explodir com um colega de trabalho…
- Relações: As relações também podem impactar de maneira importante as atividades do Border. Por um lado, a sua busca de aprovação de terceiros e seu medo do julgamento pode fazer com que o ambiente de trabalho seja altamente ansiogênico. Por outro, a dificuldade em se controlar diante de frustrações, críticas ou comportamentos que considera inadequados, associa-se frequentemente a conflitos no trabalho, fazendo desse ambiente um lugar hostil. Por fim, o Border quando se apaixona tem uma tendência a “se esquecer de tudo” e focar apenas na pessoa amada. Ele simplesmente não consegue focar no trabalho e nas obrigações a ele associadas.
- Autoimagem negativa e crenças de dependência. Ele muitas vezes carrega o sentimento de inferioridade; a percepção de ser “menos do que as outras pessoas” e o senso de incapacidade; a percepção de si como alguém completamente incapaz perante a vida e o mundo. Ele não confia em sua capacidade de tomar boas decisões, de fazer um bom julgamento, de resolver problemas, de realizar uma tarefa com qualidade, de cuidar de si mesmo, de lidar com as responsabilidades do dia a dia, de trabalhar, entre outros. A combinação de tais características faz com que ele tenha medo de enfrentar qualquer tipo de situação em que a avaliação das suas capacidades seja colocada em voga, podendo chegar a uma completa evitação de atividades laborais.
- Fracasso e profecia autorrealizável: A soma das características anteriores pode realmente ter levado o Border vivenciar uma série de experiências profissionais e acadêmicas incompletas e mal sucedidas. Isso alimenta nele um senso de fracasso que acaba por se tornar um fator desestimulante e ansiogênico frente a novas oportunidades. Como o Border “já sabe que tudo o que ele tentar vai dar errado” se sente, por um lado, altamente desestimulado a fazer algo novo e, por outro, extremamente ansioso frente a um desafio que se percebe incapaz de encarar. Tudo isso pode ainda ser fonte de intensa culpa e pensamentos e comportamentos autopunitivos.
Defrontar-se com essa série de obstáculos não é fácil, mas também não deve ser encarado como uma sentença negativa para a vida profissional e acadêmica do Border. Pelo contrário, nosso objetivo aqui é enumerar um a um esses impedimentos para que eles possam ser trabalhados em terapia e vencidos um passo de cada vez.